la dame blonde / A mulher loira

No térreo, ao lado da biblioteca e da sala de informática, tem banheiros, e nestes banheiros, tem um fantasma. Para ser mais preciso, tem uma fantasma: a mulher loira. Todas as crianças aqui a conhecem e a temem. A mulher loira fecha a porta nas suas costas e, às vezes, dizem, arranha as crianças com suas grandes unhas.
Algumas crianças aqui preferem se segurar do que ir nestes banheiros, e correr o risco de encontrar a mulher loira.

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Au rez-de-chaussée, à côté de la bibliothèque et de la salle informatique, il y a des toilettes, et dans ces toilettes, il y a un fantôme. Pour être plus précis, il y a une fantôme : la dame blonde. Tous les enfants d’ici la connaissent et en ont peur. La dame blonde claque la porte dans votre dos, et parfois, paraît-il, griffe les enfants avec ses ongles longs.
Il y a des enfants, ici, qui préfèrent se retenir que d’aller dans ces toilettes là, et prendre le risque de croiser la dame blonde.

dar um jeitinho

Aqui no Brasil há o oficial e o não-oficial, em todo lugar.
Há a economia oficial e a economia paralela. A economia informal.
Há termos especiais. Dar um jeito. Chegar num acordo. Se virar.
E também há o escambo. A saúde, por exemplo, é muito cara, então Isabelle, nossa tradutora, que é artista plástica, às vezes troca suas obras por uma consulta no médico. É normal dar um jeitinho.
No Brasil, existe um número, o CPF, que é preciso ter para tudo. Uma espécie de número de contribuinte, de identidade, que é preciso apresentar para comprar eletrodomésticos, receber cuidados médicos ou levar adiante qualquer procedimento administrativo. Um número sem o qual todos os serviços públicos, e até os particulares mas oficiais, não são acessíveis.
Um Cadastro de Pessoas Físicas.
Um número de existência oficial.
Então, sem esse número, um mundo informal se desenvolve. Pessoas sem papéis em seus próprios países, e que são, sem dúvida, milhões, e a quem resta sempre a opção de dar um jeito.

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Ici, au Brésil, il y a l’officiel et l’officieux, partout.
Il y a l’économie officielle, et puis l’économie parallèle. L’économie informelle.
Il y a des termes spéciaux. Dar um jeito. Mettre le système D en route. Trouver un arrangement. Se débrouiller.
Et puis il y a du troc. La santé, par exemple, est très chère, alors Isabelle, notre traductrice, qui est artiste plasticienne, échange parfois ses œuvres contre une séance chez le médecin. C’est normal de dar um jentinho.
Au Brésil, il y a un numéro, le CPF, qu’il faut avoir pour tout. Une sorte de numéro de contribuable, d’identité, qu’il faut présenter pour acheter de l’électroménager, pour se faire soigner ou pour n’importe quelle démarche administrative. Un numéro sans lequel tous les services publics, et même privés mais officiels, ne vous sont plus accessibles.
Un Cadastro de Pessoas Fisicas.
Un Enregistrement des personnes physiques.
Un numéro d’existence officielle.
Alors sans ce numéro, il y a un monde informel qui se débrouille. Des sans-papiers de leurs propre pays, et qui sont, sans doute, des millions, et à qui il reste toujours la possibilité de dar um jeito.

Denise, Willy e os outros

Na biblioteca, tem uma sala de internet. O filho do Ronaldo está lá para
receber várias crianças do bairro. São muitas que vieram para brincar.
Encontramos com Denise que dá risada porque o português de Flora não é muito bom, mas que explica para as outras crianças que devem falar mais devegar para Flora entender.
Tiramos várias fotos.
Denise ri quando pronunciamos seu nome à francesa… então Willy pergunta: e o meu nome, como se fala em francês? bom… Willy…. é igual. Sinto muito…

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A la bibliothèque, il y a une salle informatique. Le fils de Ronaldo est là pour accueillir plein d’enfants qui viennent faire des jeux. On a rencontré Denise, qui rit parce que Flora n’est pas très bonne en portugais, mais qui explique aux autres qu’il faut parler moins vite, pour que Flora comprenne.
On fait une séance de photos.
Denise rit quand on prononce son prénom à la française…alors, Willy demande : et moi, comme on dit mon nom en français ? ben… Willy… c’est pareil, désolé…

le maillot / a camiseta

Quando perguntamos para um menino qual objeto importante dele ele gostaria de mostrar, ele entra na sua casa e volta com um terno (paletó, camisa e gravata).
A irmã e a mãe ficam surpresas: « a gente tinha certeza que ia mostrar a camisa do Santos! », dizem elas.
Um senhor escolheu nos mostrar um chapéu de couro, desgastado por anos e anos de uso. Um objeto fascinante que não tira da cabeça.
Um outro homem mostrou um garfo.

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Quand on demande à un petit garçon quel est l’objet important ou significatif pour lui, il part dans sa maison et revient avec un costume trois pièce. Sa mère et sa sœur s’étonnent et disent : On le connaît mal ! on était sûr qu’il allait vous montrer son maillot de foot des Santos !

Un monsieur nous a montré, comme objet important, un chapeau en cuir, une sorte de calotte, toute usée, trouée. Un objet fascinant qu’il porte toujours sur la tête.

Un homme nous a montré une fourchette.

São Paulo, São Miguel, Jardim Pantanal, Rio Tietê

Estávamos no nosso QG, no Instituto Alana, e nos perguntávamos a respeito do bairro. Fazíamos muitas perguntas. Ronaldo e Luzia apareceram e disseram: temos um pequeno filme, uma palestra para vocês sobre a história do bairro. Se quiserem assistir…
Obrigado! Nos deram de seu tempo para contar como nasceu o bairro, nas margens do Rio Tietê, numa zona onde nenhuma moradia pode ser construida, mas tem que se viver em algum lugar e Ronaldo e Luiza contaram o quanto os moradores tiveram que lutar e ainda lutam para conseguir coisas básicas como ter água, eletricidade e ainda têm muitas coisas para fazer. Eles falam longamente das iniciativas e do trabalho da comunidade, da solidaridade, mas também da preocupação deles com a ecologia.
Isabelle traduz. Poderíamos ficar ouvindo por horas, eles passam muita paixão pelo que fazem e parecem não descansar nunca. Uma luta leva à outra.

Pensamos que devemos ver o Rio Tietê, ir filmar.
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On était dans notre QG, à l’instituto Alana. On se posait beaucoup de questions sur le quartier. On posait beaucoup de questions.
Ronaldo et Luzia sont venus et ont dit : On a un petit film, une conférence, pour vous, sur l’histoire du quartier, si vous voulez…
Merci ! ils nous ont donné de leur temps pour raconter comment s’est construit le quartier, autour du Rio Tietê, dans cette zone protegée, ou il est interdit de construire, mais il faut bien vivre quelque part… Ils nous racontent comment il a fallu se battre pour les choses toutes simples : l’accès à l’eau, la légalisation de l’électricité… et c’est loin d’être fini.
Ils nous parlent longuement des initiatives communautaires, de la solidarité, mais aussi de l’écologie. Isabelle traduit. On pourrait écouter longtemps encore, ne pas se lasser tellement ils sont passionnés. Ils n’ont pas de repos. Un combat mène à un autre.
On se dit qu’il faudra aller voir le Rio Tietê, aller filmer.